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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O Pacto de Lausanne, Novos Desafios da Missão Integral


Há tempos a proposta de se viver um “modelo” biblico de Igreja, como sendo verdadeiramente corpo de Cristo, se tornou uma tarefa utópica dada a diversidade de gostos e a perda do foco central do que vem a ser “Igreja Corpo de Cristo”. A centralidade da vida cristã, portanto vem perdendo o foco e o culto que deve ser  agradável a Deus passa a ser mesclado com ofertas obtusas e a unidade da Igreja vem sendo cada vez mais utópica.
      Muitas marcas[1] preocupadas com um consumismo gospel manipulam a mídia com propostas quiméricas que provocam crises na identidade cristã, bem como crise de relevância.
        Data de 1974 O Pacto de Lausanne, que foi um marco para o movimento evangélico, pois, entre as suas contribuições busca estabelecer alguns dos principais contornos doutrinários da identidade evangélica, que propiciariam uma vida cristã em unidade como Corpo de Cristo, independente do conjunto de valores posto pelas mais variadas propostas de igreja como “suas” doutrinas. 
            Questões basilares como “O Propósito de Deus”, “A Autoridade e o Poder da Bíblia”, “A Unicidade e Universalidade de Cristo” e “O Retorno de Cristo” são tratados e apresentados com demonstração de preocupação do verdadeiro princípio de autoridade, contudo, a "religiosidade secular"  traz um matizamento que, por suas leituras deturpadas, que, em vez de conduzir cristãos ao amor levam a um pseudo-cristianismo rançoso viciado.
        Evangélicos são concordes entre si que tem Cristo como único e suficiente Salvador, até mesmo verbalizando publicamente sua convicção credal, contudo, parecem estar ligados a “cristos” diferentes visto serem inversamente proporcionais em suas certezas.
        Mostrar ao mundo hodierno que é possível viver em paz, como evangélico, sem querer defender bandeira pessoal ou, como dizem “Placa de Igreja” é um grande desafio. Temos buscado viver como cristão em meio a uma sociedade hostil que encontra dificuldades de perceber que ser cristão não significa tipificar esta ou aquela igreja ou denominação, e sim vivendo como Cristo requer de seu povo, que sejam seus imitadores. Imitar a Cristo não significa entalhar uma cruz de madeira, ter sobre a cabeça uma cruz de espinhos, ser açoitado na caminhada para a morte e ser crucifixado, e sim ter como projeto de vida obedecer a Deus, fazer a Sua vontade, como Cristo fez, sendo obediente ao pai de forma incondicional, estando sempre a disposição de servir, tributando ao Pai todo louvor, toda honra e toda glória. Faz-se necessário, a cada instante, um constante rever de conceitos e valores pessoais para que vivamos buscando viver plena comunhão missionária com Deus e dos membros do Corpo de Cristo, uns com os outros.
Assuntos como “A Natureza da Evangelização” e “A Responsabilidade Social Cristã” abordados em Lausanne nos desafiam a buscar uma autêntica identidade evangélica, tanto em termos de crenças quanto em termos de compromissos e ação missionária que, embora pareça ser uma proposta simples em sua formulação não significa ser fácil em sua implementação como modus vivendi ou modus operandi de cada cristão comprometido com a evangelização. É fácil amar aos que nos perseguem? É fácil servir aquém nos odeia? Não podemos olhar para o mundo apenas como nossos adversários, como fazem muitos fundamentalistas e/ou lideres que se autodenominam cristãos, o desafio proposto pelas Escrituras Sagradas é ter uma cosmovisão cristocêntrica, entendendo que a vontade de Cristo é libertação e não alienação.
Mais contribuições de Lausanne como “A Igreja e a Evangelização”, “Urgência da Tarefa Evangelística” e “Evangelização e Cultura” nos conduz a um repensar do ser e estar da igreja na sociedade através dos tempos. A supervalorização mórbida de si mesmo e a predileção pelo grandioso vivenciada por muitos que têm como palavra de ordem CRESCER, promove a ridicularização do termo evangélico, que faz recair sobre este a pecha de aproveitador, enganador, empresário da religião que tem habilidade de manipulação de massa para obtenção de lucros exorbitantes.
Onde fica a ética? Onde fica a moral? O que é dignidade e caráter? É moral a ética vivenciada hoje? Estas perguntas não podem calar enquanto não forem respondidas com a vida cristã autêntica que não relativize a ética, integridade, moral e caráter.
Jesus, nosso modelo por excelência, que a si mesmo esvaziou e se deu por sacrifício vicário pelo seu povo alienado de Deus precisa ser para nós, verdadeira motivação para aprendermos usar as artes cênicas, musicais, as tecnologias disponíveis, os meios radiofônicos e televisivos para apregoar boas novas de salvação e não como meio de promoção pessoal, interesseira nem como manipulação emocional de pessoas que carecem da Glória de Deus.
Analisando de Lausanne, “Cooperação na Evangelização” e “Esforço Conjugado de Igrejas na Evangelização”, podemos ver que o mundo competitivo tem provocado entre cristãos ou igrejas uma guerra de mercado e as igrejas em vez de serem solidárias em sua tarefa de evangelização. Em vez de se propor uma cooperação entre pessoas guiadas pelo Espírito Santo, se vê uma proposição de estratégias mirabolantes e o sucesso[2] de megalomaníacos que têm uma personalidade moldada nos valores mercadológicos financeiros, fazendo crescer movimentos alijados à ação do Espírito Santo.
Considerado a contribuição de Lausanne como “Educação e Liderança”, Conflito Espiritual e “O Poder do Espírito Santo, a nossa atenção precisa voltar um pouco na historia bem recente da igreja brasileira que passou por ondas de batalha espiritual que provocou um conflito dualista de espiritualização do material e materialização do espiritual, causando grandes estragos nas igrejas e em sua concepção de conceitos e valores.
A Bíblia nos mostra desde o principio, Deus criando todas as coisas tendo partido do nada, convocando a criação para os demais atos criadores tais como árvore produzir frutos, animais povoarem a terra e ao homem como co-regente da criação, no entanto, parece-nos ter caído no esquecimento este atributo comunicável de Deus e isto nos têm conduzido a uma postura letárgica no tocante a nossas ações, tostando-nos passivos em vez de proativos. Por conta de nosso parco conhecimento da Bíblia, nossa visão quanto às causas físicas, biológicas, culturais, sociais e outras é tacanha.
Deixamos por conta de professores, mestres, líderes, seminários ou instituições a responsabilidade da educação teológica crendo, com isto que esta educação propiciará um crescimento espiritual e que seja possível o atingimento de um crescimento tal que seja satisfatório. Na verdade precisamos resgatar o verdadeiro ensino bíblico de que cada discípulo de Jesus deve buscar seu contínuo crescimento espiritual e que a igreja local e os seminários são ajudadores neste processo. Erramos ao pensar que seminários são locais para que pessoas descentralizadas na palavra sejam levadas ao alcance do ápice Espiritual, uma vez que as Escrituras mesmas nos ensinam que o próprio Espírito Santo convence o homem do pecado, da justiça e do juízo.
Lauzanne nos apresenta “Paz e Perseguição” nos conduzindo a uma reflexão de que pelo fato de Deus estar presente no meio de seu povo não quer dizer que este não será perseguido, entretanto temos que fazer eviçar nosso entendimento que como servos de Deus, discípulos de Jesus Cristo, portanto, somos agentes de paz no meio de uma geração perseguidora ou perseguida, somos cidadãos do céu, mas não deixamos de ser cidadãos da terra. Como verdadeiros cidadãos do céu, precisamos viver nossa plena cidadania da terra participando ativamente da polis em nosso mundo.
Muito mais pode ser dito ou, até mesmo descoberto com estudo e leitura da Bíblia e releitura do Pacto de Lausane, contudo, esta análise já nos evoca a uma releitura de nossas atitudes como cristãos, e de como temos administrado o que, de Deus, nos foi confiado a administrar.
Temos buscado promover a interação da igreja na sociedade para que ela resgate suas verdadeiras funções em seu contexto sociocultural e se preocupe, não somente com o Mandato Espiritual, mas, também com o Mandato Social e Mandato Cultural. Para e com isto trabalhamos para a promoção do crescimento qualitativo e quantitativo da Igreja de Deus. Não há como ser igreja de Cristo que prega a cruz de Jesus sem que tenha impressa em sua identidade esta marca indelével da cruz. Não há como pregar boas novas de salvação sem se ocupar com o cidadão e sua relação com a sociedade em que vive.
Precisamos desesperadamente ser luz do mundo e sal da terra, provendo mudanças, sendo que, para isto temos que crescer mais e mais no pleno conhecimento da vontade de Deus nos moldando a Jesus Cristo.



[1] Coloco aqui por marcas, as mais diversas propostas de ser igreja surgidas em nossos dias, e cada uma se utilizando de marketing pesado, difundindo seu nome como sendo a melhor opção de ser igreja.
[2] Este medido pela quantidade de potenciais financiadores da ascensão financeira da pessoa ou grupo, ao pelo montante de dinheiro conseguido com as estratégias.

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